Há muito que não escrevo por aqui, mas hoje teve de ser. Há outros assuntos a escrever, mas ontem esta discussão deu-me volta ao estômago.
No programa Aqui e Agora, da SIC, o tema era Direitos do Animais e envolvia a opinião de um toureiro, um domador de animais, um veterinário e o presidente da Animal.
Certamente que o editor do programa quis levar o assunto para as tourada e para o circo, embora todos saibamos que os direitos dos animais vão muito além deste 2 tipos de espectáculo.
Fazendo uma apresentação dos intervenientes, o veterinário era especialista em comportamento Animal, o presidente da Animal defendia os princípios, legítimos, da associação, o toureiro era da “escola antiga” mas parco em argumentos e fluidez no discurso e o domador era um bronco.
O moderador encaminhou a discussão para temas como o sofrimento do toiro em praça, a liberdade dos animais, a importância (ou falta dela) do toiro de lide para o ecossistema em que se insere, o interesse económico dos espectáculos em causa, enfim, o trivial.
Os defensores dos espectáculos digladiaram-se por duas grandes vertentes: tradição e interesse social da coisa. Os defensores dos animais enfatizaram a dor, a humilhação, a falta de liberdade dos animais e a falta de civismo de quem pratica brutais actos.
De dizer que, como muitos sabem, sou um “aficionado praticante” das touradas e considero que todos os animais devem ser tratados com respeito, em todo o lado.
Começando pelos temas, admito perfeitamente que os toiros sentem dor na praça, aliás, quem não concordar com isto que experimente a espetar uma farpa de 5 cm nas nalgas para ver se dói ou não. Acho até que este é o único argumento que não posso desmentir na questão da proibição das touradas.
Humilhação é ver animais abandonados na rua, a serem muitas vezes maltratados por tentarem comer alguma coisa. Aqui entram expressões que, compreensivelmente, não encaixam em muitos vocabulários, como por exemplo, brio, bravura, beleza, força, todos no contexto tauromáquico.
Quanto à liberdade dos animais, do toiro não falo porque só os leigos na matéria admitem que estes animais não vivem em liberdade. Dos animais do circo, defendo que têm a liberdade que a sua génese lhe permitiu. A saber: os animais do circo nasceram e sempre viveram em cativeiro, se os devolverem à vida selvagem, perdem-se uns (esses) quantos exemplares de determinadas espécies, nem mesmo os melhores centros de reintegração de fauna selvagem conseguem recuperar estes animais. Para além disso, se os animais do circo não têm liberdade e, consequentemente, o circo deve acabar, então fechem-se também todos os zoológicos do mundo, uma vez que as condições de liberdade animal são em tudo semelhantes. Já agora, fechem-se todos os centros de investigação ou interpretação animal que por aí existem.
Na verdade, só uma pessoa que não sabe o que diz, ou prefere dizer o que mais lhe agrada, é que pode afirmar que um toiro, ou qualquer outro ser vivo, não é importante para o ecossistema em que se insere. Todos os intervenientes são importantes, cada um com função(ões) específica(s), senão, no caso dos toiros bravos, como é que o escaravelho da bosta sobreviveria no montado mediterrâneo e, por sua vez, como é que o lagarto azul sobreviveria sem o escaravelho da bosta e assim sucessivamente. O equilíbrio dos ecossistemas faz-se num todo, com todos os indivíduos. Em última instância, faço um paralelismo: para que é que servem as melgas e os mosquitos? É só para aborrecerem o homem? Então dizimem-se com DDT! Mais, devo informar que o toiro de lide, apesar de não ser uma espécie, é uma variante animal que apenas existe porque existem touradas, isto é irrefutável. Se preferem que não existam toiros de lide, para abolirem com as touradas, se faz favor eu também prefiro que não existam burros (em vias de extinção) ou cavalos, para que o homem não os monte, ou até prefiro que não existam vacas, porcos, galinhas, peixes, para que o homem não os mate, muitas vezes com rituais, e os coma.
O mais medíocre e ridículo dos argumentos foi o do interesse económico. Discutia-se se não existiam touradas e circos com animais só porque dão dinheiro. A resposta é obvia: sim. É claro que se não fossem economicamente viáveis, já tinham acabado. Mas se o são “será mal de quê Zei”?!? São viáveis porque as pessoas não gostam, abominam e os 700.000 bilhetes vendidos em (algumas) praças em 2008 foram todos comprados por a) turistas b) fundamentalistas dos animais com vontade de apuparem os toureiros b) abomináveis homens das neves à espera que a tourada acabe para provarem touro bravo e ver se, eventualmente, pode surgir um nicho de mercado que substitua as touradas na preservação do touro bravo.
Tenham paciência, mas esta questão é simples. É um direito, até então assistido, de que quem gosta, vê, e quem não gosta, não vê.
Os direitos dos animais são legítimos, mas os Direitos Humanos sobrepõem-se-lhes, caso contrário, os homens teriam tanto direito de matar uma vaca para comer, como de matar um homem para o mesmo objectivo. Há coisas que ultrajam os direitos humanos e com essas, muitos dos que defendem os animais, não se preocupam. Outras há que são legais (e legitimas, digo eu) com seres humanos e não são discutíveis, por exemplo, o boxe.
Para terminar e contrapor a um argumento do presidente da animal, eu gosto de touradas e ninguém me condicionou a gostar. Eu podia gostar de comer apenas vegetais, embora seja anti-natura, mas não, como carne todos os dias.
E que comece a época!